9ª CONFARAD – Sefaradis hispano-americanos querem preservar seu legado

Representantes das comunidades sefaradis de vários países hispano-americanos concordaram no rio de Janeiro na necessidade de atuar para que o seu legado cultural e social de origem espanhola se perpetue no tempo.

Reginaldo de Souza *

Odesejo de preservar seu legado foi expresso durante a celebração de uma mesa redonda por ocasião da Nona Conferência dos Judeus Sefardis (Confarad), que contou com as presenças de representantes do Uruguai, Colômbia, Venezuela e México e de vários Estado brasileiros, no CIB (Clube Israelita Brasileiro), no Rio de Janeiro, entre os dias 21 e 23 de abril.

Sob o patrocínio da Klabin e do CIB, com o apoio da FIERJ e da FeSeLa – Federação Sefaradi Latino-americana, o evento contou com as presença do embaixador da Espanha, Don Manuel De La Cámara Hermoso, do embaixador de Israel, Rafael Eldad, do cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, jornalista Osias Wurman, do Rabino David Amar, do Beit Midrash Peer Yosef, do idealizador do projeto, Nelson Menda, e de representantes dos países latino-americanos já citados, além dos Estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Pará e Rio Grande do Sul, que apresentaram relatos sobre o judaísmo em geral e suas comunidades. A mestre-de-cerimônias do evento foi Anna Bentes Bloch.

A partir da esquerda, Nelson Menda, embaixador de Israel Rafael Eldad e o cônsul  honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman
A partir da esquerda, Nelson Menda, embaixador de Israel Rafael Eldad e o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman

O representante colombiano, Ángel Calderón, disse que os jovens sefaradis devem ser educados «desde o ventre da mãe» na cultura deste povo, formado pelos descendentes dos judeus expulsos da Espanha em 1492, e que, portanto, as gerações veteranas devem «deixar como herança a continuidade do nosso idioma, da nossa essência e vida, de um futuro melhor». 

Já o diretor do Museu Judaico da Venezuela, Alberto Moryusef, lamentou o envelhecimento da população judaica de seu país, porque muitos jovens emigraram com a crise do petróleo de 1997 para países como Panamá e Estados Unidos, e relatou que agora «o principal desafio dentro da comunidade é manter um mínimo de qualidade de vida».

Moryusef descreveu a comunidade sefaradi venezuelana como «trabalhadora e apegada aos laços familiares» e explicou que as relações com os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro têm sido cordiais, apesar da Venezuela não manter relações com Israel.

Rabinos David Amar e Shimon Sabah
Rabinos David Amar e Shimon Sabah

Ao envelhecimento da população judaica também fez referência o representante da comunidade uruguaia, Salomon Levy, declarando que a idade da maioria de seus associados «constatava o fim da instituição», mas que estavam trabalhando para buscar apoio econômico e social que lhes permita manter vivo «o legado, promovendo e possibilitando uma vida judaica plena e significativa. O legado sefaradi continuará vivo no Uruguai», afirmou com disposição.

Por sua vez, o representante da delegação mexicana, Alberto Levy, destacou a prosperidade dos sefaradis que vivem em seu país, e disse aplaudir, diante do embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de la Cámara, a vontade dos governos espanhóis e da Casa Real para estender pontes com os judeus. «Há uma vontade de entendimento, de recuperar essa Espanha onde o judeu vivia bem», afirmou.

Abertura
Após os hinos nacionais da Espanha, de Israel e do Brasil, seguiram-se o Baruch Habá pelo hazan Oren Boljover, as palavras de Samuel Elis Benoliel, presidente do Conselho Sefaradi, homenagens a Haim 
Elias Nigri, Jayme Salomão e à vereadora Teresa Bergher, encerrando o primeiro dia com o coral Angeles y Malahines, do CIB, regido pelo maestro José Behar.

Na sequência, o rabino Alexandre Leoni falou sobre os filósofos judeus no século 14 e a professora Renata Rozental Sancovski apresentou um tema não tão familiar para a maioria: a Espanha medieval e os primeiros conversos de origem judaica, cotidiano, identidade e marginalidade no século VII. Mario Eduardo Cohen apresentou o documentário Adios Kerida, de Ruth Behar, sobre os judeus sefaradis de Cuba, fazendo também um relato sobre “os desafios das comunidades sefaradis latino-americanas no século XX”. O rabino Isaac Benzaquen dissertou sobre o “segredo da continuidade judaica”; o rabino Sami Pinto, baseando-se em sua experiência familiar, dissertou sobre a “Hagadá de Pêssach, os quatro filhos e como educar através das gerações” e o palestrante Aron Hazan apresentou painel sobre os judeus na república turca após Ataturk.

Jayme Salim Salomao
À direita, Jayme Salim Salomão, presidente da FIERJ recebe homenagem de Samuel Benoliel, presidente do Conselho Sefaradi

Seu tema, “A Espanha Moderna e os Judeus. Projeto de Nacionalidade Espanhola aos Sefaradis descendentes dos que foram expulsos da Espanha em 1492”, abordou a lei que alterou o Código Civil Espanhol, restituindo a nacionalidade espanhola, 521 anos depois, aos descendentes dos sefaradis expulsos pela Inquisição.

Citando o historiador Americo Castro, De La Cámara disse que “não se pode entender a história da Espanha
sem colocar o povo judeu em lugar de destaque”. Salientou a Importância do povo judeu no Califado de Córdoba dos séculos IX a XI, quando surgiram as mais altas personalidades judias espanholas, como Maimônides, Toledano, HaLevi, Ibn Gabirol e muitos outros, ressaltando que a língua castelhana começou a servir como instrumento de cultura graças aos judeus, que colaboraram com a força de seu trabalho de tradução, mencionando a famosa Escola de Tradutores de Toledo, 
“que passou para toda a Europa o conhecimento da antiguidade, quando judeus traduziram os clássicos gregos para o árabe em caracteres hebraicos”.

O embaixador fez ainda um pequeno relato sobre as raízes do antissemitismo na Europa, indicando suas origens na Inglaterra de 1290 e na França de 1394, como chegou à Espanha e o papel das classes sociais menos cultas em sua difusão, reconhecendo que, na atualidade, “o espanhol desconhece a herança cultural judaica na Espanha”.

À direita Nelson Menda, Stella Garber no centro e uma amiga
À direita Nelson Menda, Stella Garber no centro e uma amiga

De la Cámara explicou depois o projeto de nacionalidade espanhola para descendentes dos judeus sefaradis, pelo qual todos aqueles que acreditam em sua origem possam conseguir o passaporte espanhol. Segundo ele, tal iniciativa tem uma «justificativa histórica», para, mediante políticas ativas com as comunidades judaicas «reparar no que for possível injustiça» da expulsão dos sefaradis em 1492, que tantos «efeitos negativos» deixou na Espanha.Significa um «reencontro e o retorno dos judeus a Sefarad (nome que recebeu a Espanha em hebraico)», sintetizou, e assinalou que as raízes espanholas «não podem ser entendidas sem a transmissão de alguns valores que veem da civilização judaica». 

Evento
Osias Wurman, cônsul honorário no Rio de Janeiro, abordou a “Situação Política no Oriente Médio”, fazendo uma comparação entre a troca de prisioneiros de guerra em 1968 – 600 egípcios por dois soldados israelenses – à qual esteve presente como seu primeiro trabalho jornalístico, e a de 2012. Nesta última troca de prisioneiros feita com o Hamas, Israel trocou mais de mil terroristas por um soldado quase imberbe que nunca
tinha matado, mas que não soubera, na hora dos ataques, se comportar de acordo com as normas do Exército de Israel.

O embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de La  Cámara, fala durante uma conferência, dia 22/4, no  Centro Israelita Brasileiro (CIB), no Rio de Janeiro
O embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de La Cámara, fala durante uma conferência, dia 22/4, no Centro Israelita Brasileiro (CIB), no Rio de Janeiro

O embaixador de Israel, Rafael Eldad, apresentou o tema “Israel Hoje – seus sucessos e dificuldades”, abordando desde o renascimento do Estado de Israel e as guerras que enfrentou. “Como” — perguntou ele —
“uma população de 600 mil conseguiu derrotar os exércitos de cinco países inimigos? Como um país conseguiu irrigar — “o famoso sistema de gotejamento — e fazer brotar o verde numa região tão seca e árida? Como um povo tão pequeno em números, 13,8 milhões, no mundo, conforme o último censo consegue ter tantos cérebros criativos? Milagres?” Mas, ele próprio respondeu: “Não, a necessidade de existir, a própria existência”

O evento durou quase três dias e a plateia pode aproveitar momentos de alegria com o reencontro dos amigos, o nível dos palestrantes e também a boa música dos corais, No final da 9ª Confarad, os hazanim Orem Boljover, Andre Nudelman e David Alhadeff apresentaram uma sele-ção do repertório musical sefaradi.

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* Reginaldo de Souza, tradutor e mestrando em Filosofia, de Curitiba, esteve presente à 9ª Confarad e cobriu o evento especialmente para o Visão Judaica. Com fotos de Ricardo Nigri – Marimbondo, Reginaldo de Souza e Stella Garber e agência Efe

Fuente:  Jurnal Visao Judaica, de Curitiba, Brasil

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