Desde tempos coloniais, o continente americano foi procurado por quem almejava a liberdade e novas oportunidades de vida. A procura se acelerou no século XIX, quando as invenções tecnológicas permitiram maior rapidez nos transportes marítimos. Companhias de colonização, diante de um continente com enormes possibilidades, utilizaram-se da propaganda para atrair imigrantes dos velhos continentes. Os que chegaram ao Brasil, por exemplo, foram atraídos pelas exposições em salões de mostras internacionais e cartões postais que comercializavam visões paradisíacas de terras tropicais. O rádio foi, também, meio inspirador do imaginário daqueles que buscavam soluções para seus problemas e concretização de ideais.
Os primeiros imigrantes judeus que chegaram ao Brasil a partir das primeiras décadas do século XIX eram procedentes do Marrocos, Norte da África, favorecidos pela política econômica liberal, expressa em 1808 pela “abertura dos portos brasileiros às nações amigas” e, pela independência política de 1822. Entretanto, a liberdade religiosa foi a razão principal da vinda dos judeus do Magreb ao Norte brasileiro. Em Marrocos, Tunísia e Argélia coexistiam dois grupos judaicos: os procedentes da terra de origem e, os sefaradis que, expulsos da Espanha em fins do século XV, se instalaram nas próximas terras do Norte africano, sob domínio muçulmano. Diferenciados pelas condições econômicas e esmerada cultura de áureo período, os judeus ibéricos se impuseram na região, sem deixar de absorver valores regionais, como ocorreu em toda área mediterrânea da Diáspora Sefaradi.
Ainda que no Brasil Imperial, a garantia de liberdade religiosa fosse fator preponderante, o “ato de emigrar” dos judeus marroquinos foi decisão difícil que fragmentava as bases fundamentais dos vínculos humanos, ou sejam, a família e a comunidade de origem. Mesmo assim numerosas famílias, em busca de melhores oportunidades de vida aos seus filhos, diante dos contínuos assaltos árabes aos seus negócios, escolheram encaminhá-los ao Norte brasileiro, depois da maioridade religiosa – seus Bar-Mitzvot. O contínuo fluxo familiar permitiu a formação de uma curiosa comunidade de seringueiros e regatões na região amazônica. No ano de 1826, há registros de judeus provenientes de Tetuan e Ceuta, falando o hakitia (misto de palavras árabes, hebraicas e espanholas) e construção de duas sinagogas em Belém: a Shaar Hashamaim (Porta do Céu) e Essel Abraham (Pousada de Abraham), além da Sociedade Cemitério e a Escola Maguen David. Uma Sociedade Beneficente assegurava vida, posicionamento e identidade, não só aos judeus de Manaus e Belém, mas de pequenos núcleos amazônicos, entre as quais, Cametá, Óbidos, Melgaço e Gurupá [1].
A expressividade numérica dos judeus marroquinos – cerca de 1000 famílias – foi atingida em fins do século XIX, quando o látex foi comercializado à promissora indústria automobilista dos Estados Unidos.
Na decadência da produção da borracha, filhos e descendentes dos judeus marroquinos fizeram parte dos movimentos migratórios nacionais em direção ao Rio de Janeiro e São Paulo que junto aos numerosos imigrantes foram corresponsáveis pelo crescimento das grandes metrópoles do Brasil.
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Agradecemos a la autora Rachel Mizrahi y al Dr. Mario E. Cohen por hacernos llegar este artículo.
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