Que estranhos desígnios levariam algumas pessoas a manifestar interesse por fatos passados? Seria por receio de que alguma das muitas tragédias vividas pela humanidade pudesse se repetir? Ou por pura e simples curiosidade? Elias Barrocas é uma dessas pessoas. Nasceu em Cuba, de uma família sefaradi originária da Turquia que resolveu permanecer na ilha após a tomada do poder pelo regime castrista. Apaixonado por História, sempre se dedicou ao estudo dessa matéria, que chegou a lecionar no Instituto Superior de Artes de Havana.

Em janeiro de 1980, todavia, já desiludido pelo regime ditatorial que havia se aboletado no poder e após uma longa espera de dezoito anos, conseguiu, a duras penas, sair da ilha caribenha, onde era permanentemente vigiado e chegou a ser preso por duas vezes. Seu crime? Ser judeu e sionista, o que não era visto com bons olhos pelo regime àquela época. Felizmente o clima de perseguições às práticas das diferentes religiões abrandou bastante, apesar da eternização dos Irmãos Castro no poder. Ao contrário da maioria dos cubanos, que procuraram refúgio em território norte-americano, Elias dirigiu-se, inicialmente, à Venezuela, onde permaneceu até 1987. E o que fez naquele país? Obviamente, o que sempre soube e gostou de fazer, ou seja, pesquisar e ensinar História. De 1981 a 1984 lecionou Introdução à História Judaica na Faculdade Hebraica de Caracas. Gato escaldado, quando pressentiu os primeiros ventos da tempestade que acabaria por chegar à Ven ezuela, não titubeou. Fez as malas e partiu para um novo exílio: Miami.

MIAMI
Barrocas veio juntar-se aos dois milhões de refugiados cubanos residentes nos Estados Unidos, integrando-se plenamente à coletividade Jubana de Miami, como se auto-denominam os Judeus de Cuba. Nesta cidade, Elias continuou seu profiquo trabalho de levantamento e divulgação da presença judaica na América Latina, tanto a assumida quanto a disfarçada de Cristã-Nova durante os séculos de chumbo da inquisição. Suas pesquisas incluem a identificação das primeiras vítimas do Santo Ofício no Novo Continente, passando pelo estudo do ladino, que se orgulha em saber ler nos caracteres hebraicos conhecidos como Rashi, para culminar com a assertiva de que Cristóvão Colombo seria, ao que tudo indica, Judeu.
CONFERENCISTA
Elias é um excelente comunicador, sendo convidado a ministrar palestras e conceder entrevistas sobre as diversas facetas da história judaica. Foi o caso, entre tantas outras, da recente conferência realizada na Federação Sefaradi de Palm Beach, cidade vizinha a Miami, que superlotou o auditório da instituição.

SERIA COLOMBO JUDEU?
A menina dos olhos de Barrocas, no momento, é a divulgação das diferentes pesquisas que apontam para a possibilidade do descobridor das Américas, Cristóvão Colombo ser, comprovadamente, Judeu. Esse foi o tema da entrevista concedida à Emissora de TV Educativa em espanhol de Miami, a WLRN, que os leitores da Rua Judaica podem assistir na íntegra clicando em http://youtu.be/5Qq-_WAHI14
JUBANOS
A presença cubana em Miami é tão intensa que muitas de suas ruas e avenidas são mais conhecidas pelos nomes em espanhol. É o caso da mais famosa delas, a Calle Ocho, onde está situado o Cinema Tower, que exibe filmes de arte do mundo todo.
Na quarta-feira, 27 de junho, na sessão das 18,30h. será projetado na tela do Tower o documentário Jubanos, The Jews of Cuba, falado em espanhol e legendado em inglês. Relata a situação das diversas coletividades israelitas remanescente em Cuba e os esforços de seus dirigentes para manter viva a chama do judaísmo. Antes da película o público será brindado com uma exposição sobre o que restou da outrora numerosa e próspera comunidade israelita daquela ilha caribenha, a cargo de renomado conferencista. Quem pensou no nome de Elias Barrocas acertou em cheio. Após o filme haverá debate com o público. Os leitores da Conexão residentes em Miami estão, desde já, convidados a participar. Os demais poderão assistir o filme na tela de seus computadores clicando no link http://www.snagfilms.com/films/title/jubanos_the_jews_of_cuba Vale a pena, pois são 42 minutos de pura emoção.
Nelson Menda
Miami – USA