
CASAMENTO MISTO
Meu pai nasceu na Turquia e chegou ao Brasil em 1927, com 16 anos. Estudou Ciências Contábeis e passou a trabalhar como “guarda-livros”, como a profissão era conhecida na época. Entre as diferentes empresas para as quais prestava seus serviços estava a loja de antiguidades do Sr. Abraham Peissahk, natural da Rússia, que havia morado em Paris e Londres antes de se radicar no Rio Grande do Sul, onde esta história se passou. O antiquário Peissahk tinha três filhas, todas bonitas e prendadas, obviamente cobiçadas pelos rapazes casadoiros do Bom Fim, o bairro judaico de Porto Alegre.
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Meu pai se encantou com a filha do meio e pediu, respeitosamente, sua mão em casamento, deixando aquele que viria a ser meu avô materno, ou Zeide, em uma sinuca de bico, pois apesar de não ser lá muito religioso, fazia questão que suas filhas se casassem com judeus e, obviamente, em uma Sinagoga. Ele próprio havia contraído núpcias, alguns anos antes, com a também russa Bertha Fanjgold, minha futura Bobby, na Sinagoga de White Chapel, bairro londrino onde viviam e trabalhavam. Meio sem jeito, explicou ao seu contador que gostava muito dele, mas que só poderia conceder a mão da filha a um patrício, ou seja, a alguém que também fosse judeu. Meu pai retrucou na mesma hora, afirmando que era judeu. Meu futuro avô materno abriu um sorriso de cara a cara e desandou a falar em iídishe, imaginando que todo judeu dominasse o idioma.
NÃO FALA IÍDISHE?
Meu genitor falava turco, hebraico, francês, inglês, ladino e português, mas de iídishe não entendia patavinas, nem mesmo os palavrões. Que diabos de judeu era aquele que não falava iídishe? Seu Abraham pediu um prazo de 24h. para esclarecer aquela história esquista. No dia seguinte tomou o bonde e foi até o Bom Fim.

Precisava confabular com seus amigos no bar que funcionava como ponto de encontro da colônia esquenazi de Porto Alegre, conhecido como Fedor – e é fácil imaginar o porquê – ou, entre os patrícios, por Stink. Naquela ocasião, ficou sabendo que a história era verdadeira e que existiam, sim, israelitas diferentes, que apesar de não falar o iídishe, eram tão judeus quanto ele e seus amigos do Bom Fim. Graças a isso o pedido foi aceito, as alianças trocadas e tanto o noivado quanto o casamento realizados no Centro Hebraico Riograndense, Sinagoga Sefaradi de Porto Alegre, que funciona até hoje, firme e forte, em sua bela sede da Rua Fernando Machado, na Cidade Baixa.

}BURRECAS VERSUS KNEIDELES
Todavia, é preciso reconhecer que esse matrimônio só se sustentou porque minha mãe nunca ousou preparar, na nossa casa, gefilte-fish, kneideles, latkes, borscht e outros tantos pratos que minha querida Bobby havia lhe ensinado. Teve de aprender, às pressas, os segredos da culinária sefaradi, como a deliciosa agristada, as tapadas e fritadas, os tomates, pimentões e abobrinhas recheados e, obviamente, as mil e uma receitas à base de berinjela
SEFARADIS DESVENDAM SEUS SEGREDOS
Por estranho que possa parecer, decorridos mais de setenta anos desde a descoberta, por parte do meu avô materno, da existência de “outros” judeus, ainda existe uma enorme curiosidade a respeito dos hábitos, língua, música, culinária e da própria religiosidade sefaradi. Há quatro anos fomos convidados pela Diretoria da Associação Scholem Aleichem-ASA, do Rio, tradicional entidade cultural carioca fundada e frequentada por esquenazis, a organizar um Ciclo de Palestras sobre esses “outros” judeus, a que denominamos “Os Sefaradis Desvendam Seus Segredos”. Não é preciso dizer que o evento agradou em cheio e a palestra de encerramento, sobre culinária, incluiu dicas a respeito da preparação de salgados e doces, tendo culminado com a degustação, entre outros quitutes, de deliciosas burrecas e do misterioso “dulce de rosas”, elaborado com suas delicadas pétalas.

NOVOS SEGREDOS
Diante do sucesso, a Diretoria da ASA praticamente nos intimou a organizar um segundo Ciclo, agora em março, logo após o Carnaval. Nessa nova e original série deverão ser desvendados outros segredos, todos eles guardados a sete chaves nesses mais de vinte séculos que nos separam da destruição do Primeiro Templo, origem dos sefaradis, e suas sucessivas migrações e diásporas pela Península Ibérica e terras do Império Otomano até a chegada ao Brasil. A cada noite serão duas palestras. A de abertura, dia 14/3, segunda-feira, a cargo da Professora Cecilia Fonseca da Silva, versará sobre a evolução do castelhano falado na Península Ibérica e sua transformação, pouco a pouco, no ladino, que pode ser considerado o iídishe dos sefaradis. http://www.asa.org.br/boletim/108/108_h5.htm Tudo ilustrado por melodias do cancioneiro sefaradi interpretadas pelo Hazan Alberto Levy e o grupo Angeles y Malahines, conduzido pela exigente batuta de José Behar. Na segunda-feira seguinte, 21/3, teremos a apresentação da pesquisa sobre os sefaradis portugueses a cargo da Professora Helena Lewin, Diretora do Programa de Estudos Judaicos da UERJ. Nessa mesma ocasião terei a oportunidade de relatar um episódio de heroísmo e bravura pouco conhecido, o dos Irmãos Sequerra, dois luso-brasileiros que salvaram a vida de milhares de judeus durante o Holocausto. No dia 28/3 a ativista Anna Bentes Bloch irá discorrer sobre a vida e a obra de Castro Alves, maior de nossos poetas e sua paixão secreta por uma linda jovem sefaradi da Bahia, a quem dedicou Hebréia, um de seus mais belos sonetos. A seguir, o pesquisador Luiz Benyosef irá relatar as peripécias por que passou para conseguir identificar a musa de Castro Alves, Mari Roberta Amzalak, cuja imagem será exibida ao público. No encerramento do Ciclo, dia quatro de abril, uma apresentação musical de dar água na boca, ocasião em que a renomad a quituteira Vivian Behar irá revelar o mais bem guardado segredo da culinária sefaradi, ou seja, o da preparação de burrecas, com direito à degustação. A seguir, o Grupo Angeles y Malahines volta à cena interpretando melodias que falam de comida, como pastelikos, burrekitas e almendrikas e a saborosa canção Komida de Merendjena, que inspirou a realização do Primeiro Concurso Judaico Mundial de Receitas de Berinjela. Além de poder saborear os dois pratos premiados naquele evento, serão revelados ao público os nomes dos autores nas categorias salgado e doce. Mas atenção! Em função da capacidade do auditório e da preparação dos pratos a serem degustados os lugares são limitados. Portanto, ligue para os telefones (21) 2539-7740 ou 2535-1808, garanta logo seu ingresso e reserve na sua agenda as noites de 14, 21, 28 de março e 4 de abril para conhecer os novos segredos dos judeus sefaradis que, entre outras esquisitices, não falam iídishe. A ASA fica na São Clemente, 1 55, Botafogo, Rio. Nos vemos lá.
Por Nelson Menda – Miami- EUA
[print_link]
eSefarad Noticias del Mundo Sefaradi
onde esta bosse , pegas um llamado a 305 793 0950